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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
VIAGENS DE ANTONIO MIRANDA PELO BRASIL

BURLE MARX E O JARDIM DE JOSEFINA
23--01-1988
 

 

Foto: wikipedia

 

[ O Sítio Burle Marx, no Rio de Janeiro, foi reconhecido  como Patrimônio Mundial da Humanidade, pela Unesco. São 407 mil metros quadrados, e um legado paisagístico que é imensurável. ]

 

Os jardins de Burle Marx, com seus contornos de plantas tropicais, seus meandros verdes, seus volumes e declives, suas águas em movimento, suas pedras oblongas e suas reentrâncias, estão intimamente ligados à arquitetura brasileira.
Desde a construção do Ministério da Educação, na área nova do Castelo, no Rio de Janeiro, em tempo de Getúlio Vargas, o nome de Burle Marx está associado ao de Lúcio Costa e Niemayer, ao de Portinari, como do mestre de todos eles — Le Corbusier.
Projeção urbana, jardins, esculturas, murais, edifícios e colunas compõem um mesmo universo, indissociável.
Até o surgimento de Niemayer, de Eduardo Maria Reyde, e dos arquitetos que revolucionaram o nosso espaço urbano, os prédios brasileiros eram caixões com revestimento, decorados para terem uma forma social.
Niemeyer, ao contrário, criou formas novas, quase sem revestimento, prolongadas nos jardins de Burle Marx e completadas com murais e esculturas, em uma arrojada “síntese das artes”.

Burle Marx projetou o famoso Parque del Este, no vale de Caracas (Venezuela), nos idos dos anos 50. O artista concebeu áreas maravilhosas, ambientes com uma personalidade própria, com distinção e harmonia. Era lá que eu me refugiava nos dias quentes do verão, quando estudava na Universidade Central Venezuela, em Caracas, nos anos 60.
 


Foto: Roberto Anderson

 
O Parque do Flamengo é uma das suas obras-primas, vencendo o desafio de criar áreas verdes e caminhos para os pedestres, entre autopistas. O resultado é uma moldura de beleza em toda a orla marítima, cheia de volumes vegetais, de rincões aconchegantes, de visuais extravagantes, mas bem integrados na paisagem.

E Brasília? Os jardins do Itamaraty e do Palácio da Justiça são grandiosos! Mas, infelizmente, o grande mestre do paisagismo poder ter assinado outros projetos porque a cidade vem sendo gramada e reflorestada extensivamente, sem a sua assinatura. Corre-se o risco de se chegar a um bosque descaracterizado, sem uma combinação de volumes e cores, sobretudo com um contraste descuidado, sem forma definida, a um mero amontoado de plantas, a um improviso sem estética.
Por que me lembrei de Burle Marx?
Revendo cadernos antigos, do tempo em que eu era membro da Diretoria do Ateneu de Caracas, vi uma foto da Sra. Josefina Palácios, a vice-presidente daquela instituição cultural venezuelana.
Josefina e o marido Inocencio Palacio, vivem em uma magnífica mansão nas encostas montanhosas, de frente para o monte El Avila, com o vale e seus arranha-céus  autopistas, a seus pés. Não sei quem projetou aquela casa. Quem sabe o arquiteto Carlos Villanueva, que fez os planos da Universidade Central da Venezuela, com a participação de artistas europeus e norte-americanos do porte de Ferdinand Léger, de Max Bill e de Alexander Calder.

Coincidentemente, a fachada da casa, da qual desce uma rampa para o salão principal, está emoldurada por um vitral de Ferdinand Leger, da época em que o célebre artista projetou o vitral da Biblioteca Central da UCV. Na beira da piscina, à beira do abismo, está uma das célebres esculturas de Henry Moore, transplantada da Inglaterra, de navio.
As paredes estão cobertas de obras de Picasso, de Le Parc, de Soto, Cruz Diez, de Vassarelli e dos grandes pintores venezuelanos.
Burle Marx andou por Caracas na mesma época, no fim da década de 1950, e consta que esteve em casa de Josefina Palácios, no dia de seu aniversário.
Não sei mais quem me contou esta estória, que registro a seguir, mas deve ser verdadeira.
Burle Marx teria desenhado um jardim junto da piscina da casa. Certamente, um presente para a influente senhora, cujo marido era um dos patronos das artes, estudioso, dedicado colecionador.

As pedras tiveram que ser buscadas a centenas de quilômetros de distância, nos rios encachoeirados que descem das encostas dos Andes venezuelanos. Pedras enormes, erodidas pacientemente pelas águas frias em milhares de anos. Patrolas teriam aberto clareiras na mata para facilitar o transporte e carros guindastes levantaram as pedras do solo para os caminhões.
O difícil mesmssso foi — ou teria sido — transpor a própria casa, pois a rua ficava na frente de um jardim nos fundos, à beira da ribanceira. Uma grua de construção civil seria a única força capaz de deslocar as pedras sobre o telhados da casa e assim teria sido feito.

E as plantas?!
Dizem que Burle Marx as deu de presente, de seu viveiro em Pedro do Rio, na serra de Petrópolis. Um voo fretado, depois de vencidas as barreiras burocráticas, levou-as ao local definitivo. E lá está o presente no jardim plantado, com assinatura famosa e embelezando a propriedade da família Palácios. 
Estive várias vezes em tertúlias literárias e saraus artísticos, em jantares de homenagem a vultos célebres da cultura latino-americana. Para ser franco, lembro-me bem da história mas não consigo me lembrar do jardim...
O episódio tem um certo tom de deboche, segundo a versão que me contaram, pretendendo ilustrar o novo-riquismo do venezuelano, do período áureo do petróleo.

No entanto, os Palácios eram gente verdadeiramente dedicada à artes, autênticos mecenas da cultura nacional, ativistas, batalhadores em favor do desenvolvimento artístico do país. Josefina era uma mulher simples, discreta, maravilhosa.
— La dueña de la casa soy — disse Josefina, com certa humildade. A candidata ficou assustada e desconcertada com a resposta, e concluiu, como para sair da situação:
— Que va, mijita, yo no Trabajo para una negra como yo...
Josefina era mulata e o marido branco, casamento típico de uma sociedade tolerante e em ascensão.
Tinham também uma enorme casa em Rio Chico, no litoral caribenho, com um pequeno porto, milhares de coqueiro e, naturalmente, centenas de obras de arte pelas paredes. Eles acreditavam nos novos talentos, investia neles, ajudava-os a crescer e a criar.
Socialistas convictos, progressistas no campo da cultura, cultores da liberdade, inimigos da censura, da repressão, viviam em defesa de perseguidos políticos, de artistas pobres, assinando manifestos contra todo tipo de fanatismo.
Darcy Rineiro andou pela casa deles, em tempo de exílio, como tantos outros intelectuais que ela e o Ateneu promovia e protegia.
 

 

OS JARDINS DE BURLE MARX   

           Poema de Antonio Miranda   

 

Roberto entronizava tapetes
vegetais, samambaias, gravatás.
Pintava jardins
tropicais. 

Cantos rodados
cipós, palmeiras, trepadeiras
redescobrindo a flora brasileira,
no Itamaraty, no Alvorada
– ou teria sido na Alemanha? –
na floresta amazônica
na Mata Atlântica
dos manguezais aos canaviais. 

Roberto pintava com seivas
florestais,
cubistas,
painéis herbóreos
helicônias, aristolóquias
ou pedras e heras,
jardins suspensos,
ninfeáceas. 

(Plantou, disseminou). 

São
paisagens ou
são painéis,
são janelas para o interior,
arestas e frestas de luz. 

Cores,
formas,
geometrias
impossíveis,
mutantes, são pinturas
sem molduras, relevos,
bordaduras, volumes. 

São memória
e vida.


 

 

 
 
 
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